sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Esqueleto da sociedade

eu não sei onde
mas aconteceu

se soubesse
não aconteceria

(e quando acontece bem na hora que chega!)

Raízes

a máquina que gosta
e não a criou

consegue pará-la?
quer?

torturas em seu nome

como se chama mesmo?


Toque

na dúvida de perguntar
um problema se resolve

tudo vira areia
quando não dissolve

um momento quer chegar
mas tem vergonha

e quando olho
o espelho não reflete
apenas ri sem graça

Mar e Ana

no corpo molhado
de perfume de mulher
uma dança se envolvia

tudo era visto
até para os cegos
todos os passos ação!

mas e o corpo
e o cheiro?
é toda dela
aquela que me acaricia

sorriu se foi
fechou os olhos
devagarinho...


Abismo

sem vontade
no fim do mês
do ano inteiro

ela disse algo
que não escutei
pedi para repetir

ela disse outra coisa

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Pra fechar

só abriu o aberto

não fechou
o que estava fechado

saltou pela janela
em pleno ar...

e voou

Configurações

não sabendo o que ia dar deu. levou um soco no nariz e não sangrou. nenhuma lágrima caiu somente um sorriso apareceu. ele está de bom humor hoje. sentou à cadeira novamente e continuou lendo sua filosofia na alcova.

Perto da essência

um brilho andava meio sem rumo. não sabia nem piscar mais. não sabia mais nada. sabia só andar e continuava andando. um dia parou porque a rua tinha morrido.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Aeroporto

no vulto daquela imagem
só vinha-me angústia
tristeza e falência

olhei para imagem novamente
mais nada me dizia
mais nada me significava
nem o silêncio dela

na ânsia cruel perversa
no masoquismo de sofrer
no sadismo da violência
olhei-a de novo!

ainda quer dizer coisas
principalmente as escondidas
no entanto
está muda agora

Já vim demais aqui

deitado no chão
ele dorme tranquilo

carros ônibus passam
tudo atrás dele
mas não acorda

dorme igual pedra
sujo igual rua
ainda tem esperanças

num instante repente
virou e mexeu
para coçar o nariz

sábado, 10 de dezembro de 2011

Quero apenas lápis e papel

diga um conceito
não garanto que seguirei

vou aonde me importa
e já volto desinteressado

misterioso ser humano
sendo coisas nada humanas

Meu jeito

a chuva
gritou ao sol

vai chover!

o sol
cuspiu à chuva

e eu com isso!?
não me molho mesmo
nem sequer sei chorar

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Amnésia

as cartas foram jogadas
não compreendo este jogo!

me encanta mais
o som do silêncio
espanhol

tudo por causa dele

que hoje
já nem sei
porque o reprimi

mas no fundo
todo mundo sabe

Às vezes tô fresca mesmo

tudo certo
fico aqui então

não preciso sair

mas de todo jeito
ela sairá

porém o que ficaria
ficou e me bastou

nem mesmo o comediante
sorri agora

(e olha que o mundo está muito engraçado hoje)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Cai Pora

seria melhor
se não conhecêssemos ninguém

pois na partida
sem volta da vida
não choraríamos até doer

e se fossemos também
um dia
nem a gente lembraria
da nossa frágil condição!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Bem apertadinho

amarelo
a cor dos olhos
daquele com tédio

azul
a cor dos olhos
que existem no norte

verde
a cor dos olhos
dos tranquilos de paz

marrom
a cor dos olhos
da distraída melancólica saudade

vermelho
a cor dos olhos
fui ali já volto!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Literatura

a malha fina letrada
delatou com exuberância
a corrupção do homem

apagaram aquelas letras

um homem
na ânsia de salvaguardar
todos os homens
se vê também parte
cúmplice da miséria posta
porém num lapso duvidoso
e bastante alterado
protesta!

apagaram aquele homem

Sorriso de crocodilo

assim como estava fixo
meus pés sobressaltaram
instantaneamente a brisa pesou
encobriu muitos
as visões não embaçaram

ele falava das coisas
bradava com fôlego
sem parar
apesar de ser gago

quando viram a calcinha
é que perceberam
a burrada que fizeram
não era ela

frente à multidão
todos se isolam
atrás da solidão
o perigo se aloja

Rezadores da chuva

distraidamente um som apareceu
continuou perpetuando no vácuo
envolveu todo um ser
que dizia ser eu

esperar o momento
isso não quero
nem vou deixar

aquele gesto que precisava
ninguém fez
também não vou fazer
odeio ser diferente

mas a música continua...

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Presente histórico

a ideia cabe somente
à filosofia

o detentor do pensamento
apenas a filosofia

tanta sabedoria
cabendo numa coisa só?!

filotudo
sofiação
a metáfora
a ironia fina posta
sem querer ser vista
muito menos percebida
entendida ou calculada

tudo está em tudo
e nada mais

vai ser uma merda
essa expectativa de amanhã

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Herança

"não sou preconceituoso
tenho educação
entretanto você sabe
o judeu
o negro
o vermelho
o cigano
o ciclano
e os terroristas?!

hoje até mulher vota!"

a lei é essa
evolua ou morra
[mas o que é evoluir mesmo?]

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Escolha

de repente uma árvore
enraizou todo um mundo
sugava tudo
apertava com paixão

no dia marcado
cansou-se e soltou-se
num leve levitar
de madeira virgem

daí em diante
só se ouve
um ruído metálico sorridente
que rasga tudo
que não é definido

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Promessa

num frio de tropical
respirei sons de passarinho
quanta pena não!

naquele cheiro inconfundível
de pão-de-queijo
de pura falácia
um simulacro soou verdadeiro

às vezes não compreendo
os intervalos do minuto
pois queria ser
o poeta do agora

joga o tempo fora
mergulha na espuma niilista

sábado, 12 de novembro de 2011

Estações

surgir e brilhar
louvar o tempo
que nunca acontecerá
ele sempre é
ele sempre está

caminhando na neblina
vejo uma sombra
tem cheiro de menina
ela não quis aproximar

em pleno aborrecimento
a luz vem
chateando todo o embaçamento

eis que sorrio
um pouco feliz

sábado, 5 de novembro de 2011

Incêndio

nós cairemos
mas não encontraremos
o chão

uns ficarão
por preguiça
ou por não conseguir
mas nunca verão
o chão

no roxo profundo
contamino todos
com o conhecimento inevitável

ninguém será mais feliz

porém o chão
ninguém vê
nenhum diz

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Fadiga

na companhia do imaginário
foi que entendi
o feminino das palavras
quando o devaneio passou
devaneado
sem saber de si

no regime do tempo
dia e noite
são tudo diferentes
mas buscam igualdade
na única pronúncia uníssona

pássaro do dia
negro como a consciência
pássaro da noite
claro como desilusão amorosa

entenda como quiser
ou não entenda nada
leu porque quis



quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Eu que procurei!

a boca que fere
a relva negra cortada
ambas passam por mim

sinto tudo tão perfeitamente
parece ser plena verdade
nesse momento acredito nela

(acredita que ela fugiu?
acabou de ir...)

a verdade
é que a verdade
é passageira
nunca passou
só pensa em fugir
com o passado.


queria um dia
fugir com ela também
mas sou presente
presente presente sem frente

dizem estarmos andando contrariamente

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Cadeau

la nuit parle de quelqu'un
un garçon différent
il est sans temps...

il ne connaît rien des années
la vie
pour lui
c'est le passer
des moments
il est sans temps...


 mais une chose il sait
qu'est-ce que le bonheur?
c'est un jour d'anniversaire!

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Deve ser melhor assim

eu não sei
o que quero
mas o quero


conheci o desespero
ele falou comigo
bem calmo tranquilo

riu de uma piada
riu até chorar

suas lágrimas caíam
e o chão brilhava
era confortador

pois esquecer é a melhor solução!

domingo, 30 de outubro de 2011

O eu-lírico pediu demissão

o primeiro beijo
com gosto de sorvete

o derradeiro beijo
com gosto de sorvete

continuo gostando de sorvete

A visionária

a palavra veio
gostou e ficou
tingida sem freio
o mundo ela mudou

O que não cabe

papel aceita tudo
menos a borra sanguenta
da arte sem ação
sem conhecimento de causa.
nele cabe
o Elemento Nacional!

sábado, 29 de outubro de 2011

Milagre

tens medo
eu não tenho

nem meu eu-lírico
que vaga sem mim
consegue trabalhar autonomamente

fala saber quem é
diz não ser eu
quem disse que queria?

(meu eu não fala pela língua)

minha boca está costurada
e minhas mãos atadas.

Musa

quando percebo
ela já veio

mas sabia que viria
pois queria que viesse

eu não preciso mais

parece vir de novo
parece vir sem parar
parece nunca ter vindo

eu não preciso mais...

não quero explicação
não quero subterfúgios
não quero conquistas

eu não preciso mais

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Perder feio

antes que chegue
depois da experiência
durante o tempo perdido.

desenhos podem explicar bem
podem até falar algo
mas às vezes
podem ser só desenhos

estarei pronto para eles
com lápis e ideias
perfurarei todos
xingarei deveras

sei ser assaz violento
como o vento!

(não vejo razão na guerra)

domingo, 23 de outubro de 2011

O cachorro do focinho quente

quando bati a cabeça
me veio ideias tortas

há sempre ressalvas

no devaneio do feminino
as certezas caíram mortas

só minhas esperanças
não foram salvas

não lambe o vomitado
animal idiota!

O jardim das saudades

a condição do amor
retratada na foto
ao lado da porta

não diz nada
não mexe nada
não vibra nada

é estática como gélida
estátua de um instante
(que infinitamente veloz passou foi e voltou)
o som não tem
não sai absolutamente pensamentos
daquelas bocas e sorrisos

não lembro tal motivo
talvez esse retrato lembre
e faça questão
de ficar comigo
ao lado da porta

[perto da parede dos sonhos]

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Hai Kai I

a escrita de si
que exprime o outro
através da leitura

Hai Kai II

naquela temporada
fria como um vulcão
despertei a ficção

Hai Kai III

venho de longe
sei sua lingua grande
saiba está tudo bem!

Sem nuvem para a lua

o começo do dia
a zero hora infinita
traz mais uma cabeça
cotidiana

quando ela vem
ela vem
seus olhos são fechados
para sempre

então corre
se está atrasado
a bala pode
perfurar sua nádega branca

(por que o início do dia é escuro?)

Lembra para esquecer

não se compra amor

nem com presentes?
nem com dinheiros?!
nem com livrinhos?!?
e se for mais dinheiro?

ainda é pouco para compreensão

o terá quando o interpretar

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

La fin

je suis là
mais je continue fatigué

je connaîs la blague
et la mort
j'ai déjà tué

après je suis tombé de mon lit!

Pequeno poeta III

o fracasso depende
de onde você mora

tá longe
tá fora?

já fui para europa
agora estou bêbado!

Pequeno poeta II

têm modelos
que não precisam sentido

escreve nada com nada
merda com qualquer ciência
(exata de preferência)

Pequeno poeta I

minha métrica é diferente
conto os pontos
e as vírgulas

Avisos amigáveis

um por um
vai admirando o tempo
que parece nunca passar

entorpeço de toda maneira
acho tudo certa besteira

(mas rio sarcasticamente para não chorar
até minhas lágrimas caem rindo
tenho vontade de lambê-las no chão)

vem vindo o ódio
estava detrás do amor
nem ele se via
quando se viu explodiu

só se compreende posse
só se entende propriedade
é meu por prova

prova cega do fardo
do carma
que não sei o que quer dizer

continuo achando tudo besteira

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Discando os números I

ela não atende
deve estar dormindo
silenciosamente

peraí
pela décima primeira vez
foi recusado o sinal
de um pressentimento mal
fui recusado

ou ela dorme ainda?
não atende
disfarçadamente

Discando os números II

aqui está chiando muito
chovendo não chiando burro
mas chove forte sim

(esse não é o problema)

avião passa também

Discando os números III

vem depressa
agora pode falar
não ouço com os ouvidos

Tautologia barata

aquilo não é aquilo
isso que é aquilo
isto pode ser este
esta está com dor de cabeça

ele é ele
(tá errado)
ele é tudo
é nada
mas nunca será ela
(coisas de ideologia
honrando as calças)

aquela sem contexto
é isto que falei
daquele que é esse
conheço apenas os quaisquer
que me falam categoricamente
as coisas da filosofia
dos dêiticos que são
não é
é são
em vão

somente o ser é

O mal das três horas da madrugada

você ainda aqui
impertinando e importunando
haja paciência e créditos...

(vi que alguém
tirou os seus)

minha culpa
talvez não
mas eu estava dormindo!

entendo que compreendes não
como sendo sempre sim
pois na tua matemática
estudada e bem especializada
negação mais negação é afirmação

(lógica aristotélica?
acho que é mais
não entender um não)

se eu falar não mais...
se eu não falar mais...
te conheço
nunca aceitará

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Curriculum

pelos cantos peguenhentos
da sorrabada saliva caindo
uma gota salgada
sucumbe num livro de prestígio
virando sua página
mostrando o outro outrem lado
da escrevência que foi invertida.

Telefona pro outro

ou
olha a hora
desconfia

liga mais tarde
quando não puder
...

ou compra um relógio
pra saber a hora
de ligar para ninguém!

às vezes o ódio
me dá dor estomacal
de barriga mesmo
com tatuzinho e tudo.

sábado, 15 de outubro de 2011

Numa agência editorial de jornais

estás escrevendo muito
que que foi
?

por que não colocas ponto
apenas escreve com ignorância
exclamação?

es ridículo e sujo
fede igual bosta recente
que cai neutra silenciosa
respeitando o som aguado
da privada

só um momento inútil
bateram à porta

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Não consigo escrever agora

se quiser verdadeiramente ver
é só não imaginar

descobri num chão
perto duma árvore
o recoreco de uma nota só

não sou vidente obviamente
mas alguma coisa aconteceu
não sobejará cacto inocente
é difícil de crer

sem vírgula afadigada
às vezes ponto
pronto
não está acabado

a fibra contemporânea
de esdrúxulas escarradas
cospe baba xinga
palavras de grandes verbetes

sou contemporâneo então?

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Insônia

remexo de um lado
e de outro
na cadeira

nem à cama
consigo ir
deitar
ter pesadelos

meu amor maior
presenteou-me
me deu a satisfação
acreditar sem crer
cansei-me a mim mesmo em si mesmado

sorriso é coisa séria

Acende a vela III

não se preocupe
você esquecerá isso
logo logo logos
razão!

Acende a vela II

Acredite
ele jamais acontecerá...

Acende a vela I

Vai
faça o pedido!

domingo, 9 de outubro de 2011

Aniversário

o tempo sempre peneirando
contamos ele por contar
idade exata não sabemos
nem morrer vamos saber

o que passa
nessa cabeça antiquada
de dias obsoletos
das mesmas coisas?

mesmo o dia após
será outro dia qualquer

não se defrauda
velhice jovialidade dependem
pode ser estado
pode ser instante
pode nunca ser

passa apenas sem pensar
o tempo não imagina
passa passa passa passa
nunca para de andar

então acende a vela
depois assopra bem ela
e fica doido deveras

sábado, 3 de setembro de 2011

Cadê o isqueiro

naquele momento de devir
a velocidade que regressa
o corpo cai cansado

porém

o que precisava ir
foi veloz qual foguete
estralou todo o compreendido
luz em plena noite!

compreendo tudo bem agora
mas vou me esquecer

O quê?!

inscrever direito
com mão esquerda

ela sabe dobrar

ele tomba ereto
sem ri

será verdadeiro
pensar nisso?

bobagens ingênuas transbordam
ninguém sabe sabendo

não faça isso
dêiticos indecifráveis

sábado, 13 de agosto de 2011

No transporte coletivo

que que isso?
repisar é bom?
depende de quê?

que acento circunflexo
que existe acima
boiando sem estima

querer que permute
o pronome relativo
por outro verbete
que nada modera

a vida passa
pessoas já conhecidas
que se reencontram
num olhar inédito

sábado, 30 de julho de 2011

Não acredito ainda

vejo ela cair
ao meu lado
sinto seu bafo
garoado quase molhado

na noite limpa
aquela estrela amarela
que nem pisca
é um planeta

burguesada assaz preguiçosa
vai de carro
para a cozinha
quer mesmo atropelar

buzina não toca
corpos se encontram
aquela outra estrela
é meu amigo

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Padrão

um trabalhador emurchece
pela honra familiar
foi maniatado flagrante
em um instante

um biltre mata
pega liberdade condicional
goza seus direitos
se réuprimário
desatado no horário

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Vento frio

não querendo encontrar
sempre se encontra

cumprimenta bem longe
para mostrar educação

padre com freira
dá coroinha

nunca sei disfarçar
revelo sem mostrar

sábado, 26 de março de 2011

Vishwamitra

me-
tro
minha proteção perfeita
me-
di-
da
a estrutura impecável

assim vi
quando morri

mas pois
ainda estou aqui

Azeite de Oliva Espanhol

caótica ordem
revolta conformada
estabelecimento antigo
do homem novo

estadonação moderno
tráfico de informação
nacionalismo mal entendido
sentimento cômodo
pertencente do nada

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Abra a janela

e como chove
nesta cidade fértil
de água
Uberaba

de duas tartarugas
famintas, uma maior
que a outra
uma chama Cacildo

tem um branco
e enrolado cachorrinho
de nome Nero
feroz arisco dorminhoco
parece um travesseirinho

apertado no apartamento
adormecendo altas horas
sem dormir também
antefiro jogar video-game

seca rua molhada
de caminhos infinitos
sonhos não realizados
lutam entre bonitos