Patrick

a porta se fecha
um apitinho canino aparece

a garagem se abre
o desespero começa enfim

chorando igual criança mimada
late choroso às vezes

olha para o lado
acha o franguinho emborrachado
morde e sacode ele

Ho ho ho

o saco era grande
mas de cor preta
estava bem inflado

de repente uma criança
com muita fome
correu pegou o saco
e mordeu e assustou

com o barulho
do estouro

puro ar puras ilusões

aqui não existe natal

Palíndromo

na noite vaga retumbante

de uma sexta qualquer

ana passou o radar

em outro bairro distante

ouço grito de mulher

ele quer muito matar

chimbando um crack variante

o drogado doutor requer

títulos status para adorar

Pulseira

caminhos e desencontros

sem querer se acha

vê e não vê
num momento de distração
o olhar vigilante
mas não olhando diretamente

vergonha por saber
ser a mesma coisa
que condenou com brutalidade
(expressão de inocente criança)

normal para sua idade
como para os dedos
que encostam no violão

Platina

dentro do bar
bebendo água e coca
garganta sempre seca
dentes afixados como rocha

conversas sem fim

a preocupação vem depois

quando acaba tudo

Dicionário monolíngue

dormiu e não sonhou
se comportou como queria
sorria e sentia

acorda no passado
de sons ruídos irado
e está com sede

Inconstitucionalíssimamente

ouviu com a essência
corpo do corpo
não privilegiando a mente

ouvido boca olhos nariz
pé joelho nuca unhas

entendeu de fato imediato
o sentido das palavras
e sorriu e chorou

Paisagem

aquilo que não vê
imagina de forma contemporânea

ele só comeu
porque o dei na boca

Mais um dia depois do meu aniversário

foi sorrindo nuvens
que sentiu o gosto
da formalidade compulsória

em trancos e barrancos
chutando tudo que vê
vive de forma ilusória

vai criando e criando
sonhando realidade numa irrealidade
onde apenas existe memória

Le mois d'octobre

a estrada sem destino
a música com acidentes
a flor sem perfume

o clarão bem negro
o azedume muito doce
o perdido bem achado

um instante rendido qualquer

Cerveja

o que murmura afinal
senão as mesmas sandices
por debaixo dos panos

aglutinando e não sangrando

sem sujeira sem maneira
no todo imundo desconsertado
em longos indiferentes anos

Primavera

ainda na sobriedade natural
as coisas ainda leves
e ainda aquele sentimento

Mudo

o bico da planta
segurava uma gota
que não caía

fazia um ano

água transparente e azul
refletia todo seu tempo
ensinava o que fora

o que ainda é

no instante
entre inato e vazio
o pequeno líquido caiu

transformando o próximo amanhã
num dia de silêncio

Licitações

parte para dentro acima
deixando invertido e estabelecido

pensou que nunca mudaria

ele que sempre fora
reticências entre parênteses
o tudo e nada
o não saber curioso.

uma falta de vontade

Um dia depois da sexta-feira 13

eu sou
o homem de aço
terminando com sua mulher

sigo minha paranoia
ninguém pode me ajudar
com minha cabeça

e é no
funeral elétrico que ouço

a bateria de Bill Ward

Krusty love

soluçava bêbado muito feliz
tinha uma garrafa vazia
estava flutuando no álcool

começou a afundar afundar
via tudo uniforme turvo
bonito azul claro escuro

sem problemas com peixes
saía bolhas do nariz

Felino

foi no fim
de agosto sombrio
e iluminado e frio

que tudo de bom
começou a desaparecer

e outras coisas boas
também surgiram depressa
em passos de caramujo
deixando baba e gosma
pelo caminho florido

Qual verdade procuras?

eu me escondi
dentro de uma garrafa

pensei que era gênio

quando me deram falta
abriram a garrafa

saiu aquele cheiro ruim

Objetivo fim

ele está expectando
mas tem muito medo

da véspera do acontecido.

quer deveras resolver tudo
ansioso até chegar enfim
o dia que queria

fica estático nada faz

Curió

voa alto passarinho
com traços coloridos

desenha o curso infinito
através do arcoíris

Dia dos pais

só a morte não tem dor

Agora mesmo chego aí!

um minuto qualquer
estabeleceu uma regra
para falar da verdade

de uma coisa nítida
mas também invisível

um medo
que o tempo agarra
solta prende amarra

e não está mais
em sua mão

Arrow

na sub-existência da televisão
ele tenta existir igualmente

e falha

preocupou demais e sofreu
ocupou de menos

e não compreendeu nada

Um agosto

o chamam de guerreiro
colocam mãos nas testas
reverenciam e se perdem

escolhem seus líderes
depois desescolhem
mas

continuam com as mãos
ao alto na fronte

Lembra da queda

abreviou o dia vencido
adiando o curso errado

se achou estúpido perdido
ficou deverasmente machucado

cicatrizes

está se ganhando
no perdendo

Macadâmia

na morada do caminho
com vontades não faladas
desordeiros explicando o confuso

a boca que retorna
parece se esquecer depressa

fingindo lembrar-se sempre

Papa puta que pariu

refém abatido explicado
pela justiça do próprio

país

na chegada do grande
líder
orei tudo ao contrário

não lembrava há anos
do que se tratava

Oferecimento

a mulher dobrou

a esquina e virou

ela mesma ao contrário

só o nome permanece

Manuel melhor que Otávio

joana porque pensaste muito
porque não agiste?

divagasse andando experienciando sentindo

não queira saber
como é a vida
de cada ser

continue amando os animais

talvez adote uma criança

mas mesmo assim joana
ficaste bem perto

do selvagem coração

Sabichona

no não dum sim
que o certo

fica duvidoso
parecendo sim e não

acho talvez sim
com talvez não

Festa junina na cracolândia

algumas pessoas dividiam comida
água leite suco pinga
alguns sorriam outros choravam

se abraçavam
e quase dançavam

no ritmo da dor

Esperança

através da porta transparente
enxerguei a dor
surgia alva esbelta rapidamente

à procura do amor
frio e sem graça

Protestos

passou por uma calçada
havia uma blusa suja

retorcida e cinza

passou também vários carros
dentro de um
a mulher direta falou

"nunca traiu seu marido?"

Sexo

eis que toca
uma campainha bem discreta

porém bizarra e aconchegante

não dizia palavra
apenas sons bem maduros

Sábado

coloquei o feijão

no sol para descongelar

ele ficou pastoso

do jeito que gosto

Reunião

sem entender o som
das rimas livres
interpretou a arte
e a achou esdrúxula

perguntou onde estava
os palavrões

Acento agudo

maquinando uma ideia
de como fazer

o melhor afã
do pior pensamento
registrado pelo sentimento

Capítulo anterior

impressora 3d antigravidade
foi pensada

sem nenhuma razão

de segunda a quinta
exceto feriados santos

06/06/2+0+1+3=06

o telefone toca
sua página de relacionamento
uma mensagem inesperada surge

para te avisar

"você perdeu não estou sozinha mais!! você está?"

Mon jardin

j'y vais
sans savoir le saveur

la chanson est musique
la musique ne stoppe pas

je me présente
je retourne
je vois l'étoile
mais pas la lune

le marcian humain

je jamais dors
car le sommeil
c'est le cousin de la mort

Frio que não neva

a cabeça sempre cheia
como os pulmões
foi quando cansou

quis brilhar como vagalume

mas cheirava cachorro molhado

caiu na real
fazendo uma rachadura enorme

na grande pequena cabeça

Lembra de 31 de maio

isso é café pequeno
esquenta o motor
antes de sair

conferido e confirmado
peraí peraí peraí peraí

olhos verdes de duque
sangue ralo bem azul
todos nós temos berço

são coisas de juninho

mas quero ir embora
não aguento mais
queria parar meu coração

e ele parou

Campainha

nada melhor
do que não fazer

nada

tudo ao mesmo tempo

Casa sem luz

bem alto como pombos
cagando voando e mijando

sigo olhando esquerda direita
pra baixo pra cima

não possuo consciência

de nada

Seus amigos

senhor raposo vegetariano
sorriu babaca

levou roberto o gato
para a armadilha

comeu peixe tomou mel
galináceos sem fim

honesto à hermelinda
à quebra-galho e fura-cerca
havendo reciprocidade

humano demasiado humano

Delinquentes

fumava sem nenhum remorso
via o quase visto
ficava tonto vagando verde

quase livre
mas de coração aberto

a mente limpa suja

a bondade a maldade
para aprender

Ser/Estar

quando estava tranquilo
entendeu como fazia

despreocupado e convicto

morreu de velho

Vertigem sóbria

eu conseguia abrir cervejas
teclar no celular

coçar gostoso onde coça

mas um dia
perdi tudo
não dei valor

corteis as unhas
das mãos

só quando não temos é que queremos

Hai Kai I

a não estou vivo
tenho que viver

Hai Kai II

aném
tenho que viver

Hai Kai III

tenho que viver
tenho que viver

Não gosto de chuva

ando meio inteiro

com uns pedaços
faltando em mim

sou limitado pelo infinito

que sempre esconde seu fim

Ma puce

ce n'est pas parfait
je vis comme je vis

moi même en tout le moment

sans rire sans rien

seulement moi
et tout le jamais

Meninagem

nos gostos proibidos
que envolvem recheio
sabor doce como verde

imagino na inocência
que não há problemas

porém o dia seguinte
a preocupação
a espera cruel

de mais uma conversa

Nada pra fazer

não leia
só por ler

leia

imagine e acredite nisso
construa sempre destruindo

e construindo.

o infinito

é o ponto de partida

Um dia após o feriado

foi descendo a rua
que ela disse:

olá

e levantou a mão
meio triste

Quando o amor acaba

chapeuzinhovermelho estava na floresta
ouviu um pequeno barulho

atrás da moita

foi ver de qual
chegando lá
estava seu lobo

dando uma rapidinha

Filosofia

sabiamente um dia
com belos argumentos
aristóteles pensou e falou:

cantina da serra

baco mijou vermelho de tanto rir

Estou morrendo de saudades de você

estava eu na rua
estava também chovendo

cheguei em casa
frio e com calor
quase seco quase molhado

havia muita formiga
no lixo do quarto

comendo meleca do meu nariz

Flauta

arrastei pesos pesados

com um dedo só

resisti a golpes

numa defesa de paz

não fui feliz

e não sabia

Réplica

quando chegou o dia
que mais queria

achou sem graça
e foi embora

sem sentir vontade

Ranger

mudo ao mundo fico
perante a mudez dela

muda fria sem afinco
cada vez se revela

mais longe mais feliz
com outras mãos apertando
abraços beijos e bis
outra vida vai formando

na sensação de derrota
fico ainda na porta

para não pular no abismo

Saudade

chorar e ninguém vê
esperar um sim
dentro do não

esperança última que morre
num beijo assaz gostoso.

gostosa de nome
de vontades da carne
bem bicho faminto

e o nada
na palavra de jamais

num pedido de paz

Poesia

na dúvida do gosto
no exagero da atitude

nos olhos que olham
e param de olhar
mas querem enxergar novamente

mais perto
próximo da boca grande
(bocão).

o cheiro vem
a calmaria se aproxima

às vezes!

tudo agora parece ter
forma sabor ironia desejo
de chocolate

Oito de março

mesmo sob flores avessas
ela está a sorrir
vê cada cor específica

no predomínio da escuridão

ela leva e traz
mas tudo volta diferente
queria uma vez entender
porém sinto medo

fascina justamente pelo gênero
encanta ao falar agudo
espera sempre o melhor

frente ao artigo masculino
que não é singular
é particular

Gratidão pela aprendizagem

estava cansado sempre
nada me animava

principalmente certa pessoa

mas outras me animavam

até mentia sem corar
para ficar com elas

eu disse aquilo mesmo
maz fiz aquilo outro

e daí!?

não sacaneio ninguém
porque acredito nas palavras
ditas por mim

falsas como minha vida

quem és?
quem fostes?
quem poderás ainda ser?

Olha quem voltou

todos se divertem
menos eu

pois vivo na  vergonha

ando de ré
bato as costas
no muro do passado

ainda caminho com ele

até quando? até quando?

Tudo em paz

bebeu álcool até cair
mas
não deixou de sorrir

nem de sonhar

gostava sempre de relembrar
as lindas dores

de ancestrais amores

vultos ainda embora
a dançar a chamar
tempos de outrora

não trazendo mais
aquilo que foi

Otorrinolaringologista

no céu escuro
sem estrelas

sem lua

um vaga-lume
parou de piscar

os gatos
não comiam mais peixe
nem miar miavam

foi quando de repente
o sol se apagou

Pince-nez

terminei um romance
que nunca comecei

havia pontos vírgulas exclamações
interrogações

mas principalmente parenteses

Sorriso constrangido

indo e não indo

veio e não ficou

passou devagarinho

nem um thau deixou

Cachorro com sede

em me achar
em me perder

em dizer não querendo dizer

mas cortando tudo
até a si próprio.

com os sangues
se misturando
criando uma nova cor

uma nova imagem

uma perspectiva de continuar

saber que não acaba quando acaba