segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Deve ser melhor assim

eu não sei
o que quero
mas o quero


conheci o desespero
ele falou comigo
bem calmo tranquilo

riu de uma piada
riu até chorar

suas lágrimas caíam
e o chão brilhava
era confortador

pois esquecer é a melhor solução!

domingo, 30 de outubro de 2011

O eu-lírico pediu demissão

o primeiro beijo
com gosto de sorvete

o derradeiro beijo
com gosto de sorvete

continuo gostando de sorvete

A visionária

a palavra veio
gostou e ficou
tingida sem freio
o mundo ela mudou

O que não cabe

papel aceita tudo
menos a borra sanguenta
da arte sem ação
sem conhecimento de causa.
nele cabe
o Elemento Nacional!

sábado, 29 de outubro de 2011

Milagre

tens medo
eu não tenho

nem meu eu-lírico
que vaga sem mim
consegue trabalhar autonomamente

fala saber quem é
diz não ser eu
quem disse que queria?

(meu eu não fala pela língua)

minha boca está costurada
e minhas mãos atadas.

Musa

quando percebo
ela já veio

mas sabia que viria
pois queria que viesse

eu não preciso mais

parece vir de novo
parece vir sem parar
parece nunca ter vindo

eu não preciso mais...

não quero explicação
não quero subterfúgios
não quero conquistas

eu não preciso mais

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Perder feio

antes que chegue
depois da experiência
durante o tempo perdido.

desenhos podem explicar bem
podem até falar algo
mas às vezes
podem ser só desenhos

estarei pronto para eles
com lápis e ideias
perfurarei todos
xingarei deveras

sei ser assaz violento
como o vento!

(não vejo razão na guerra)

domingo, 23 de outubro de 2011

O cachorro do focinho quente

quando bati a cabeça
me veio ideias tortas

há sempre ressalvas

no devaneio do feminino
as certezas caíram mortas

só minhas esperanças
não foram salvas

não lambe o vomitado
animal idiota!

O jardim das saudades

a condição do amor
retratada na foto
ao lado da porta

não diz nada
não mexe nada
não vibra nada

é estática como gélida
estátua de um instante
(que infinitamente veloz passou foi e voltou)
o som não tem
não sai absolutamente pensamentos
daquelas bocas e sorrisos

não lembro tal motivo
talvez esse retrato lembre
e faça questão
de ficar comigo
ao lado da porta

[perto da parede dos sonhos]

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Hai Kai I

a escrita de si
que exprime o outro
através da leitura

Hai Kai II

naquela temporada
fria como um vulcão
despertei a ficção

Hai Kai III

venho de longe
sei sua lingua grande
saiba está tudo bem!

Sem nuvem para a lua

o começo do dia
a zero hora infinita
traz mais uma cabeça
cotidiana

quando ela vem
ela vem
seus olhos são fechados
para sempre

então corre
se está atrasado
a bala pode
perfurar sua nádega branca

(por que o início do dia é escuro?)

Lembra para esquecer

não se compra amor

nem com presentes?
nem com dinheiros?!
nem com livrinhos?!?
e se for mais dinheiro?

ainda é pouco para compreensão

o terá quando o interpretar

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

La fin

je suis là
mais je continue fatigué

je connaîs la blague
et la mort
j'ai déjà tué

après je suis tombé de mon lit!

Pequeno poeta III

o fracasso depende
de onde você mora

tá longe
tá fora?

já fui para europa
agora estou bêbado!

Pequeno poeta II

têm modelos
que não precisam sentido

escreve nada com nada
merda com qualquer ciência
(exata de preferência)

Pequeno poeta I

minha métrica é diferente
conto os pontos
e as vírgulas

Avisos amigáveis

um por um
vai admirando o tempo
que parece nunca passar

entorpeço de toda maneira
acho tudo certa besteira

(mas rio sarcasticamente para não chorar
até minhas lágrimas caem rindo
tenho vontade de lambê-las no chão)

vem vindo o ódio
estava detrás do amor
nem ele se via
quando se viu explodiu

só se compreende posse
só se entende propriedade
é meu por prova

prova cega do fardo
do carma
que não sei o que quer dizer

continuo achando tudo besteira

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Discando os números I

ela não atende
deve estar dormindo
silenciosamente

peraí
pela décima primeira vez
foi recusado o sinal
de um pressentimento mal
fui recusado

ou ela dorme ainda?
não atende
disfarçadamente

Discando os números II

aqui está chiando muito
chovendo não chiando burro
mas chove forte sim

(esse não é o problema)

avião passa também

Discando os números III

vem depressa
agora pode falar
não ouço com os ouvidos

Tautologia barata

aquilo não é aquilo
isso que é aquilo
isto pode ser este
esta está com dor de cabeça

ele é ele
(tá errado)
ele é tudo
é nada
mas nunca será ela
(coisas de ideologia
honrando as calças)

aquela sem contexto
é isto que falei
daquele que é esse
conheço apenas os quaisquer
que me falam categoricamente
as coisas da filosofia
dos dêiticos que são
não é
é são
em vão

somente o ser é

O mal das três horas da madrugada

você ainda aqui
impertinando e importunando
haja paciência e créditos...

(vi que alguém
tirou os seus)

minha culpa
talvez não
mas eu estava dormindo!

entendo que compreendes não
como sendo sempre sim
pois na tua matemática
estudada e bem especializada
negação mais negação é afirmação

(lógica aristotélica?
acho que é mais
não entender um não)

se eu falar não mais...
se eu não falar mais...
te conheço
nunca aceitará

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Curriculum

pelos cantos peguenhentos
da sorrabada saliva caindo
uma gota salgada
sucumbe num livro de prestígio
virando sua página
mostrando o outro outrem lado
da escrevência que foi invertida.

Telefona pro outro

ou
olha a hora
desconfia

liga mais tarde
quando não puder
...

ou compra um relógio
pra saber a hora
de ligar para ninguém!

às vezes o ódio
me dá dor estomacal
de barriga mesmo
com tatuzinho e tudo.

sábado, 15 de outubro de 2011

Numa agência editorial de jornais

estás escrevendo muito
que que foi
?

por que não colocas ponto
apenas escreve com ignorância
exclamação?

es ridículo e sujo
fede igual bosta recente
que cai neutra silenciosa
respeitando o som aguado
da privada

só um momento inútil
bateram à porta

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Não consigo escrever agora

se quiser verdadeiramente ver
é só não imaginar

descobri num chão
perto duma árvore
o recoreco de uma nota só

não sou vidente obviamente
mas alguma coisa aconteceu
não sobejará cacto inocente
é difícil de crer

sem vírgula afadigada
às vezes ponto
pronto
não está acabado

a fibra contemporânea
de esdrúxulas escarradas
cospe baba xinga
palavras de grandes verbetes

sou contemporâneo então?

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Insônia

remexo de um lado
e de outro
na cadeira

nem à cama
consigo ir
deitar
ter pesadelos

meu amor maior
presenteou-me
me deu a satisfação
acreditar sem crer
cansei-me a mim mesmo em si mesmado

sorriso é coisa séria

Acende a vela III

não se preocupe
você esquecerá isso
logo logo logos
razão!

Acende a vela II

Acredite
ele jamais acontecerá...

Acende a vela I

Vai
faça o pedido!

domingo, 9 de outubro de 2011

Aniversário

o tempo sempre peneirando
contamos ele por contar
idade exata não sabemos
nem morrer vamos saber

o que passa
nessa cabeça antiquada
de dias obsoletos
das mesmas coisas?

mesmo o dia após
será outro dia qualquer

não se defrauda
velhice jovialidade dependem
pode ser estado
pode ser instante
pode nunca ser

passa apenas sem pensar
o tempo não imagina
passa passa passa passa
nunca para de andar

então acende a vela
depois assopra bem ela
e fica doido deveras